Sunday, November 26, 2006

LU AR


LU AR

Foi tudo programado. A gente sabia que cada passo dado seria histórico.Duca ria e me abraçava e andava lentamente como em camera lenta.Isto é história:íamos a pé para a casa da Vera, em Belo Horizonte, irmã de Lucinha, onde ela e Arnaldo Baptista se hospedam. Saímos assim que terminou o sound check da Orquestra Imperial.Compramos algumas cervejas e o trajeto foi tão longo que bebemos todas as latas." A gente bebeu, a gente fumou tanta coisa por aí..."
Tínhamos uma grana pro táxi e negociamos: Vamos comprar uma dúzia de latinhas e seguimos a pé. Não sabíamos o quanto era longe, acho que uns 3 km e acabamos com todas as cervejas...
Duca Moobwa, um cara branco,canabico, 20 e poucos anos, de classe média, gesticulava e falava muito rápido, balançava os braços exageradamente, feito Neal Cassady. Com tantas tatuagens e andar descolado de estradeiro, roadie, Duca, se parecia em qualquer lugar do planeta como um cara que tem uma banda de rock e ele tinha mesmo: Uma aparência inconfundível. E segredou, Cara, tenho um plano de jogar sem regras contra a sociedade, não sei fazer nada além de tocar guitarra e rock’n’roll....confesso que não entendi mas assenti, não iria medrar pelo silencio.
Quando acabaram as cervejas mas nao a sede, recordei um conto do Caio Fernando Abreu, do livro Morangos Mofados, em que o cara vai ao encontro do seu amor, e cai. Chovia muito e quebra a garrafa de conhaque e fica com vergonha de chegar com cheiro de álcool. Quando chega lá, ele bate, bate, bate na porta e... Como se chama o meu amor mesmo? Ele esquece o nome!!! É a cara das letras do Arnaldo, principalmente nas músicas que ele fez com a Patrulha do Espaço e Singing Alone, com seu palavrório assombroso, como se a sua integridade psíquica estivesse por desabar:
“...Hoje de amanhã eu acordei e pensei onde esta o arco íris?
Já não sei se voce é o arco íris
baby
Acordei sozinho e pensei: preciso de dinheiro
Já não sei se voce é o dinheiro
Será que baby sou eu?
Será q baby é vc?...Sera que Baby e Deus?
...É um pouco assustador, não é?...sexy,sexy sua, sexy sexy nos ouvidos...posso até me suicidar até o sol raiar...”
 
Lembrei da primeira audição do recente CD do Arnaldo, Let it Bed, na casa do Lobão, em que nos emocionamos, eu e Liege, ao ouvir " Bailarina", uma bossa jobiniana ( não uma dança fortuita), com letra e fatos experimentais caóticos que na lingua ‘arnaldês’ ficam tão simples, mesmo desconstruindo tudo:

me dá o prazer de ser mortal-imortal...

Fiquei extremamente feliz e pensei que isso não poderia ser um ato solitário, a minha felicidade tinha que ser compactuada , eu precisava dividir com todos e eu falava e falava das músicas e o cd saiu quase um ano depois. Me lembro de uma audição com os integrantes da banda Cachorro Grande e Lobão e o Fernando Sr. F em Brasília, todos extasiados com o cd.  
Eu tinha vontade de perguntar para o Arnaldo sua orientação religiosa,fiquei curioso após ouvir L.S.D. em que ele diz, numa defesa profana: Louvado Seja Deus que nos deu o rock n´roll...Recentemente, Lucinha me disse que ele era ateu apesar de evocar tanto Deus nas suas músicas, “ se eu posso pensar que Deus sou eu e bruuuuuuuu....” em “ Balada do Louco”. Deus parecia seu objeto de obsessão, como se o Principio fundador, onipresente, também responsável pelo rocknroll, o cosmo virando caos de novo. A regravação dessa musica no Disco Voador potencializa com emoção exacerbada e angustiada, num disco com precários equipamentos técnicos em que o produtor Calanca escreveu em letras garrafais na contra-capa: Somente para Fãs. Arnaldo, perpetuamente brandindo sua procura, dando bandeira do pic-esconde entre Deus e ele. Ali, num impulso solitário mais uma vez ele grava sozinho todos os instrumentos. Lobão que recentemente gravou assim o cd “Canções Dentro da Noite Escura”, ao ser perguntado por um jornalista como era tocar todos os instrumentos, se não era solitário demais, ele disse, Mas um pintor também não faz seus quadros sozinho...?
Arnaldo fez um desenho pro Lobão, com as incriçoes: Lá Si Dó, sua eterna obsessão pela brincadeira, trocadilho, LSD. Sempre Deus e o acido lisérgico nas suas letras...só quem experimentou pode entender o seu recado. Deus e rock’n’roll. Deus e acido, complementares ou feroz antagonismo? Sua busca quixotesca por Deus? Ou deus?
JESUS... BACK TO THE WORLD....
Mais citacoes em Tacape: ‘por seu amor esqueço até de Deus...

Mas o papo fluía e não queria estar ali com papo inquisidor e afinal fomos lá para beber e matar as saudades.Nos falamos por e-mail quase diariamente há dois anos e eu sentia muitas saudades deles,me sentia feliz em ver os olhos de admiração e amor de Lucinha... a felicidade a fazia luminosa. “deve ser amor que estou sentindo, ´so pode ser amor que estou sentindo, yeah..”
Recomendei ao Duca pra não ficar esmiuçando o passado e tal, falando de Rita Lee....e assim que começamos a conversar eu disse que iria nascer minha primeira neta, Clara Peticov, e Arnaldo recordou que o Antonio Peticov, que foi também seu empresário, foi o cara que fez aquela famosa calça de couro que está na capa do Lóki? Daí falamos sobre o festival de São Lourenço, onde Lucinha disse te-lo conhececido e foi um pulo pra Rita: o André Peticov, avô da Clara! fez a capa do melhor disco de Rita, pré-Roberto de Carvalho: “ Atrás do porto tem uma cidade”....e não paramos mais de falar do passado...Então Arnaldo foi até o equipamento de som e trocou o disco do Queen pelo novo do Pato Fu e cantava todas as letras.

Depois de nos mostrar seus desenhos e camisetas, bebemos e fumamos e convencemos todos a irem ao show da Orquestra Imperial, após acabarmos todo seu estoque de cigarros e de cervejas.
Chegamos.
Foi mágico circular pelo salão onde todos queriam cumprimentar o cara. No camarim todos os músicos queriam vê-lo, conversar, acho que os mais novos nunca deviam te-lo visto. Arnaldo me perguntou quem era o Moreno, filho do Caetano veloso e os apresentei. Fiquei orgulhoso por estar em sua companhia, por conviver no mesmo espaço com um cara de sua dimensão histórica e musical, um verdadeiro outsider, sempre esteve a margem, desde O Seis, dos Mutantes e de sua carreira solo.
Pensei isso hoje: Os Mutantes não acabaram. Nesse exato momento em varias partes do mundo tem alguém ouvindo Mutantes, numa orgia perpétua. Só que Sérgio, Rita e Arnaldo não estão mais juntos, mas a sua musica esta tão presente com músicos diversos como Beck, Curt Cobain, Sean Lennon, David Byrne...
A revista inglesa Mojo os colocou em 12º lugar, numa lista dos “ 50 Most Out There Álbuns of All Time” ( os 50 discos mais experimentais de todos os tempos), ficando à frente de Pink Floyd, Beatles e Frank Zappa! Como bem descreveu o jornalista Will Hodgkinson, “ os Mutantes eram adolescentes brasileiros do LSD que descontruíram Beatles para reconstruí-los novamente..."
Recentemente a canção Minha Menina foi regravada pela banda britânica The Bees em seu primeiro disco, Sunshine Hit Me.
Nesse show que os Mutantes fizeram agora em Londres com os três originais, Arnaldo, Sergio e Dinho e Zélia Duncan nos vocais, a revista Time Out os chamou de “ a maior banda psicodélica de todos os tempos”.
Voltando ao Let It Bed: O cd foi aclamado em diversas partes mundo, por críticos e revistas especializadas de rock como o site Euro Club de Jazz pelo jornalista Bruce Gilman.
Ali, após anos sem gravar, mas experimentando sons em casa e estudando e lendo sobre física quântica, na minha opinião, Let it Bed é sua experiência de pico, seu nirvana musical. Um cd que funciona com um I Ching, que deveria ser vendido em farmácia, antídoto pré-depressisvo em que Arnaldo voa e coloca toda a sua linguagem peseudo-caotica (altamente subjetiva) sem freios. Nesse cd ele não fala português, ele apenas usa a língua como referencia, ele fala Arnaldês, uma língua pra iniciados, que se parece com o português mas não tem a amarras dessa língua. Língua, essa, que só quem ouviu Loki? Exaustivamente conhece e logo se identifica.
Voltando.
Levei alguns drinks pra eles que foram pra platéia superior assistir aos sambas psicodélicos da Orquestra. Numa dessas vezes em que voltei a Vera me disse que eles tinham ido embora. O Berna que é o maestro da Orquestra, havia acabado de convida-lo pra uma canja, fiquei pensando em como seria Lóki? tocado com tantos instrumentos...fica pra próxima!

Fica aqui registrado a força gravítica que a música do Arnaldo exerce sobre a minha vida desde os 13 anos e também, obviamente, o amor que sinto por ele e Lucinha.


Escrito ao som exaustivo, no maximo volume, do cd Let It Bed. Procure fazer o mesmo e viaje. ( Louvado Seja Deus!)

Tuesday, November 21, 2006

DupraT


Duprat se foi! O pirata de todos os signos!
Acordei com essa noticia. Peguei todos vinis  dos Mutantes e saí pela Niemeyr chuvosa. Nos ouvidos uma canção hippie em que Gal dizia e eu sampleava: Meus dedos cheio de anéis e minhas calças vermelha de Flash Gordon.
Fui ouvindo tudo o que tinha do Duprat. Passo a passo, um por um, cada disco me remetendo obviamente à minha atribulada vida afetiva, tantos casamentos...
 Me lembro quendo ouvi o primeiro Lp dos Mutantes aos 13 anos. A cara da minha mãe, imagina! Mais assustada que eu. Quem são esses caras? E Panis et Circencis com a rotação terminando como se houvesse caído a energia elétrica. Nessa época eu namorava Lucylle, então com 12 anos e ela era obrigada a ouvir diariamente comigo todos os discos dos tropicalistas.
Havia  um Lp do Gil em que Duprat fazia uma colagem sonora de guitarras do Serginho Dias com maracatus e  frevos e um som típico de banda do interior.
Ele foi sempre cultuado, na mídia paralela, como o George Martin dos Mutantes. Pra quem não sabe, Martin foi o maestro, arranjador, que produziu os melhores discos dos Beatles.
No inicio da década de de 90 ele veio ao Brasil e fez uma apresentação aqui no Rio, na Quinta da Boa Vista, ao lado do zoológico. Eu passava por uma crise no meu segundo casamento, uma de tantas...aí no meio do show cheguei pra Sara e disse: Seguinte, to pedindo demissão do nosso casamento.Ela espantada, Como assim? É, to saindo, tenho outros objetivos, quero ter uma filha e tal, voce não quer...
Foi muito difícil, penoso continuar aquele assunto: Eu dizia, sem convicção: As contas são minhas, os filhos são nossos, os vacilos e pecado todos meus (meus amores).  Foram quase duas horas ouvindo aqueles belíssimos arranjos dos Beatles e minhas, (suas) lágrimas se confundiam com a emoção do show e o impacto, o dado imprevisível, o pedido de distrato de casamento. Os pecados e os vacilos sempe meus....Além disso tudo chovia muito e as lágrimas....
Nós dois sempre fomos assim, a primeira vez que pedi Sara em casamento foi num super-mercado. Sim, nós casamos algumas vezes. E era lá, no meio das compras que a convenci de voltar pra mim algumas vezes...
 
Bom, voltando ao asunto principal: Rogério Duprat, arranjador do disco Tropicália, o petardo inicial do movimento, onde mistura guitarras elétricas ( na época um sacrilégio) com cordas, foi eleito muso-maetro dos tropicalistas. Participou de todas as gravações, nesse período, dos baianos Tom Zé, Caetano Veloso e Gilberto Gil e nas carreiras dos Mutantes e também no primeiro disco solo do Arnaldo Baptista, Loki? Onde os sintetizadores se misturam aos seus arranjos alquímicos. Loki? foi considerado um marco, muito mais pela ousadia de gravar quase tudo num take só (sem emendas)e pelo tom confessional , do que pela própria sonoridade Elton John que Arnaldo vinha ouvindo. Ali, na faixa Uma pessoa só, Rogério Duprat desconstroe tudo, as cordas sobem o volume, a balada se torna quase um rapp, com Arnaldo e suas frases ininteligíveis num discurso bombastico...Era difícil alguém entender essa sonoridade Duprat- Frank Zappeana em 74!
Duprat, conhecido como gênio recluso, nasceu no Rio e se mudou pra Sp em 55. Virulento, já na capa do Tropicália, onde segurava um penico como se fosse uma xicara, ao lado de Torquato Neto, Mutantes, Nara Leão, Caetano,Gil e Tom Zé. Anos depois ele regeu o confuso transito de São Paulo deixando perpelexos tanto  pedestres quanto os motoristas!
 
Rogério Duprat continuou desafinando o coro dos contentes até quando já não ouvia mais e se isolou num sitio no interior de São Paulo e mesmo assim continuou produzindo jingles e algumas musicas para Lulu Santos e Rita Lee na década de 90.
Saudades de seu som e de sua ousadia!

Lucylle me abandonou em 86, após o colapso da relação de mais de 10 anos, na praça Nossa Senhora da Paz, Ipanema, deixou um filho de quase dois anos que Sara me ajudou a criar.
Após idas e vindas, com Sara,  em 2002 quando fui tirar a segunda via do meu RG, para meu espanto, na hora de preencher o formulario descobri que ela havia se divorciado de mim à revelia!
Minha estória com ela(s) terminou ali, mas o som não. Continuo ouvindo Duprat, Zappa e  George Martin, mas nao consegui realizar o meu sonho ( imagino de muitas pessoas) de ve-lo regendo os Mutantes, ao vivo, agora dia 25 de janeiro do proximo ano, numa praca publica em Sao Paulo!

 

Saturday, November 18, 2006

Carta aberta a Inajara!



Fevereiro/2003

INAJARA

Eu falo de amor e da perda, sempre, do sofrimento; vc sabe o que é ver o seu amor nos braços de um outro qualquer?
Falo da perda da individualidade, quando você ama tanto que já não se vê mais, não tem individualidade, quer tanto o outro, necessita tanto do outro, quer ver o mundo pelos olhos dele, entrar dentro dele, onde ele anda, o que come, com quem fala ao telefone, o que diz no telefone, o que escreve na Internet, o que faz em casa, e aí, a gente se esquece de si próprio e é a hora de parar, de se olhar no espelho e retornar a auto-estima, reaprendendo a amar.
Eu falo da perda de limites (pelo amor), dá desconstrução da identidade (de novo), do espelho que é você refletido do OUTRO, você pensa...
Eu falo do vazio que é estar sem o outro, a solidão e o silêncio, da falta de capacidade de se bastar, de ler um livro ou ir ao cinema, não nada disso importa quando você está tomada pelo amor excessivo. Eu falo da co-dependencia afetiva,voce ja nao come direito, dorme aos poucos, acorda na madrugada e lembra de uma cancao antiga da Dione Warwick, ou de Pablo Honey do Radiohead e chora e chora e chora e acorda com os olhos vermelhos e inchados.
Eu falo da posse dos pensamentos, do olhar, adivinhar seus movimentos, o que pensa, com quem ele sonha, com o que ele sonha...voce passa a procuracao de todos os seus atos... você tenta sair e não consegue, é como uma droga que te toma inteiro, entao você sabe o motivo porque pega os comprimidos pra dormir, doida que o dia acabe e que no próximo você receba um telefonema, uma mensagem na Internet dizendo, vem me ver,um torpedo celular... vem me ver, mas nada, a pessoa já está em outro lance e você não percebe, você não quer acreditar que o perdeu, todos seus amigos já sabem mas não podem te dizer e aí quer mudar de país, sair do planeta e de novo procura a caixa de anti-depressivos..
Eu falo do que falávamos na praia e sempre que estamos juntos, desde que nos conhecemos naquela viagem a pé pro Sul: do amor, da perda, de como é bom ser amado, quando o amor começa ele é igual pros dois e quando acaba sempre, quase sempre, termina pra um só e a gente sofre, procurando a alma gêmea pelos cantos... eu pergunto, alma gêmea é idêntica a gente ou aquela que te completa? Eu achei que tinha encontrado a tal, só que ela era a minha cara, meu espelho (naquele tempo!), canalha e irresponsável e egoísta com o amor...
Então você esquece tudo e pensa em encontrar um novo amor, vai ser tudo de novo? Vai amar aos poucos? Pode-se amar devagar e com medo? Existe isso? Aí você lembra de uma canção em que o João Bosco diz: o amor quando acontece a gente esquece que já sofreu um dia...
Esse texto é, obviamente prá ti e pra Tiza, que amou muito e nunca temeu nada.

Byra Dorneles
(Ex-calafate, ex-faxineiro da SQS 105 Brasília, é auto-didata e escritor diletante, mas quer sair do nicho)

Monday, August 14, 2006

CLARA PETICOV DORNELES


CLARA

Brancura de lírio...
Eu vi você no sonho e era assim
Seus dedos finos e longos de pianista
seu nariz e boca do pai, avô e bisavô: todos os Miguéis e Tio-Migas...
Sua pele branca
Branca
Branca
Sua tez branca de sua mãe judia não-ortodoxa. Dhimmi,
Seus cabelos encoracolados dos mulatos Dorneles

Clara! Te vi assim
Nascendo com luz nesse mundo mágico e assombroso em que vivemos
De guerras, aculturação, falsas ideologias, e culturas interneticas fakes.

Cada criança que vem ao mundo
Ignora por completo as mentiras que os homens inventam a respeito de tudo e sabem que o mundo não é só isso que se vê
Cada criança que nasce me suscita isso:
Revolucao
Um ser, uma flor que brota no asfalto
Tentando
Se movimentando pra mudar o mundo,
Parar o mundo.
Não que eu não tente a Revolução e queira te passar essa função, Clara
Sei que podem sempre nos chamar de Quixotes magistrais
Mas te vejo nascendo
Como uma aliada, Clara
Nessa guerra não-declarada
Nessa ditadura não-declarada, nessa ditadura cor de rosa...
Te vejo como cúmplice, Clara, porque te amo.
Eu te aguardo com pressa de libriano, pensando,
Que mistérios terá Clara?

“ ...uma só lua se reflete em todas as águas
e todas as luas refletidas nas águas
se originam de uma só Lua...”
Yoko Daishi

Clara Peticov Dorneles nasceu dia 21 de outubro as 11.39 com nota 9 e confirmou o meu sonho

Sunday, August 06, 2006

free free michael jackson free...


Estava lendo sobre Michael Jackson, essas ultimas noticias...e é quase impossível eu falar dele sem falar de mim.Na realidade sou sempre auto-referencia e acabo falando de mim quando vou escrever algo.Detalhe: não sou pedófilo! Estou lendo agora o livro “31 Cançoes” do Nick Hornby e posso garantir que se eu fizesse uma lista teria pelo menos uma musica do Miko. Talvez “I’ll be there” ou “Billy Jean”, não sei.
Temos quase a mesma idade e lembro dele com uns sete anos dançando com os irmãos na TV ... aí eu cresci e parei de ouvi-lo e ele não. Parou de crescer. Criou seu castelo do Peter Pan, a Terra do Nunca Mais, se trancou lá com todos seus sonhos e acreditou neles todos.Imagino a solidão que dever ser sua vida, o contrato de tristeza que assinou com seu sucesso, perpetuamente intoxicado...Conversava com um amigo na praia um dia desses e comentamos: Miko deveria ganhar o Premio Nobel da Paz por todos seus feitos, suas ações, pela sua canção na década de 80, We are the world...você tem noção de quantos mil dólares eles levantaram com isso? Pois é, ninguém lembra disso, querem só comentar o fato dele ser pedófilo e excêntrico e viver o seu mundo. Quantas pessoas brancas vivem torrando no sol e quantos brancos fazem dreads pra parecer negro?...Mas não, Miko não pode operar o nariz e querer ser branco, é proibido porque ele é preto, puro preconceito, cada um faz o que quiser com seu corpo.É proibido proibir. Não tem uns caras que se tatuam todos, até no rosto? Porque MIko, não?
Se é pra criminalizar alguém, prendam todos: comecem pelos pais, que desde a década passada já sabiam desses hábitos infantis do Miko...depois acione as “crianças”...12 anos e não distingue sua sexualidade? Suco de Jesus? Nessa idade eu já sabia bem distinguir um ácido de uma anfetamina!Soube que estão em debates novas leis nos Estados Unidos pra penalizar adolescentes criminosos, não seria esse o caso? Fala sério, desde os 6 anos eu tenho noção de minha sexualidade! Os pais e os meninos estão se aproveitando da fragilidade e poder financeiro de Miko, todos se aproveitaram...ele pagou hospital, curou o câncer do menino, deu de presente um relógio de U$ 75.000 e....
'Não era algo sexual. Dormíamos. Eu os cobria, punha um pouco de música e lia um livro', disse ele ao jornalista. 'Era algo realmente encantador e doce".
No principio, quando o garoto tinha 12 anos isso era bonito, o menino devia achar isso...quando ele conseguiu a grana e atenção que queria e foi discriminado na escola, quando o mundo viu aquele programa de Tv em q ele descreveu isso, e ele já estava com 15 anos, aí não. Michael se aproveitou dele(?)...é óbvio que o menino gostou e é óbvio que Michael dorme com seus amiguinhos e tem uma conduta lasciva com crianças e é óbvio que todos os pais sabem disso e se aproveitam...então o que sobra? Hipocrisia cristã católica e caótica....Michael sofre ataques constantes da imprensa,vítima de perseguição, por ser perdulário e por seus gastos compulsivos de milhões de dólares em lojas de brinquedos e tal, mas o dinheiro é dele, ele não roubou ninguém, simplesmente fez um trabalho impactante na década 80, sua experiencia de pico, acho que foi Triller, sem duvida... e passou anos pesquisando sons e arranjos com o maestro Quincy Jones e vendeu mais de 100 milhões de cds no mundo todo! Ele tem o direito de gastar sua fortuna com o que quiser!
Concluindo: Michael tem que ser respeitado, como um homem ( branco ou preto, não importa sua cor) que está a frente de seu tempo, com sua musica e sua vida. Daqui a 50 anos essas acusações maniqueístas serão motivos de pilhéria, como foi a queima de bruxas na Idade Média. Quando toda a moral cristã falida e reacionária estiver extinguida.
O Principio do prazer.
Deixa o cara viver!
Tem uma canção no disco novo do Lobão que me remete a isso tudo e me faz pensar em como deve ser difícil estar sozinho, não ter amigos e os pais sempre tão distantes:

“Pra mim o mundo é só mais um quarto escuro.”(Lobão)

http://www.flogao.com.br

Friday, June 16, 2006

Droga é legal, o homem que não é.


Domingo passado estava conversando com um amigo meu que é musico e constatei algo que penso há anos: droga é legal! Pense em toda a obra dos Stones, Brown Sugar na década de 70 e dos Doors, se não houvesse drogas. Sem apologia , eu só uso drogas ilegais duas vezes ao ano, no meu aniversario e no reveillon, mas fico pensando...Cabeça de Dinossauro dos Titãs, sem o Arnaldo Antunes drogado, seria possível? Sgt. Peppers, dos Beatles sem ácido lisérgico? Rimbaud...? Uivo do Allen Ginsberg? As portas de Percepção de Aldous Huxley sem drogas? Flashbacks, de Timothy Leary? O A E O Z, dos Mutantes? Meu amigo dizia: “sou um homem! Como é que é!? Alguém ou o sistema vai me dizer o que eu devo comer ou beber? A maconha é meu samba!” A proibição provém justamente do medo que ‘eles’ têm da máquina parar de funcionar e de que todos acabem com sua rotina febril e estagnante, de que nasça uma nova ordem em que os princípios cristãos caóticos e caducos venham ser questionados. A partir do momento que a sociedade rotula a pessoa de ‘viciado’ ele é excluido de uma possível participação e é discriminado. Ralph Emerson, que nasceu em 1803, usava haxixe e ópio e defendia um sistema de idéias basicamente fundamentado na individualidade, crescimento interior, autoconfiança e rejeição à autoridade, instigando assim, as pessoas a procurar um Deus interior e abandonar o cristianismo. Qual a importancia das drogas? Elas são usadas desde que o mundo é mundo! Qual o medo que elas despertam? Na Hollanda e alguns bairros de Londres tem espaços liberados pra seu uso com controle da sociedade e não tem casos de violência ou quaisquer distúrbios. Nesses casos acima em que cito alguns artistas que usaram e fizeram obras maravilhosas, alguém pode argumentar referindo-se às mortes de overdose e tal....É por isso que digo que a droga é legal e como o homem é que não sabe manipular e perde o controle, se Freud conseguisse conter sua fome de cocaína talvez chegasse a resultados enormes.Se Hendrix não se chapasse daquela maneira não teria morrido de sufocamento pelo vômito...Janis Joplin estava acostumada com uma dose de heroína sarapa e naquele dia fatal veio uma carga muito pura e...Elis Regina me parece que foi a mesma coisa... Recentemente, em 2003 houve um congresso aqui no Brasil, chamado Narco News, no qual um professor norte-americano, Robert Stephens, tentando espalhar o medo, como fizeram em 1937 quando foi proibida a maconha nos EUA, querendo apertar o cerco aos usuários e tambem visando aqui, a implantação de clínicas de ‘tratamento’, (esse terrorismo chamado de justiça terapêutica), fez varias falsas afirmações sobre a droga:
1 - causa insônia
2 - náusea
3 - nervosismo
4 - ansiedade e perda de apetite(!!!)
É claro que foi desmascarado lá mesmo na terra dele, imagine aqui, dizer que maconha provoca insônia e perda de apetite! No mínimo ele nunca experimentou!

Alguns nomes históricos que usaram/pesquisaram drogas: Carlos Castaneda, Aleister Crowley, William Burroughs, James Joyce, Ken Kesey, Torquato Neto, Alan Watts, Lennon, Paolo Mantegazza, Sergio Sampaio, Miles Davis, Jim Morrison, Keith Richards, Raul Seixas, Mick Jagger, Tim Maia, Jerry Rubin, Eduardo Bueno, Abbie Hoffman, Kurt Cobain, Arnaldo Baptista, Albert Hoffman, Allen Ginberg, Timothy Leary, Arnaldo Antunes;
Concluindo, vamos usar todas as drogas, plantas, com responsabilidade e moderação pois seu uso pode causar dependência, pensando que é fundamental:

1- Construir seu próprio e desfrutável universo
2 - Pense por si mesmo e questione a autoridade, como disse Burroughs: “ Na verdade, tudo é permitido”.
3 - “ O fato de todo homem e toda mulher ser uma estrela”.

Eu não posso causar Mal nenhum a não ser a mim mesmo...(Lobão e Cazuza)

*Byra Dorneles (Auto-didata, ex-calafate e estuda sobre drogas desde os 13 anos)
Base do texto: www.narconews.com
"Flashbacks" de Timothy Leary.
ILUSTRAÇÃO: ADÃO ITURRUSGARAI
HELP LUXUOSO: CYNTHIA LAVOIE

ABOUT ME E TORQUATO


ABOUT ME E TORQUATO NETO










Abri uma cerveja e mais outra e eu queria mais e me flagrei de uma coisa que o Torquato Neto disse: o alcool é pra mim o que é a coca e o piau pra alguns...e eu sou radical em relaçao à coca , mas é a mesma coisa: a birita vai me levar pro hospício. Minhas idéias estão embaralhadas, esqueço de tudo, ando com papel e caneta no bolso e escrevo tudo, dois minutos depois não lembro mais....Na sexta passada me deu um branco e fiquei quase uma hora a deriva, tipo bad trip de ácido...com as lembranças feito estilhaços ma minha cabeça... Sei, como disse Nietzche, “Nós, os novos, os sem nome, os difíceis de serem entendidos, os filhos prematuros de um futuro ainda não demonstrado, temos a necessidade, para um novo objetivo, de um novo meio, quer dizer, de uma nova saúde, uma saúde mais forte mais afinada mais tenaz mais ousada mais divertida do que todas as saúdes conseguiram ser ate agora...”. Sei que citar Nietzche é um pouco de ousadia, mas é assim que me sinto em relação ao álcool, é meu aliado nesse sentido...e Nietzche fala em saúde uma saúde mais forte e tudo, sem uma vírgula, de uma vez.... Fui pra análise, passei anos lá e resolvi algumas questões, mudei minha relação com o álcool, mas largar ele mesmo, jamais. Sou um observador do tempo, não fico de bobeira e sei que é extramamente prazeiroso estar aqui e agora e presto atenção e medito e faço a respiração certa, mas o álcool não largo. Aí me deparo com um texto do Torquato dizendo: eu não percebia que o álcool é a mesma coisa do vício do pico e pode me levar pro hospício... Eu sempre tentei levar uma vida outsider e criei meus filhos assim e fugi da escola e do serviço militar obrigatorio, quase rasguei minha identidade, quase fugi do país num trem fantasma via Bolívia, quase fui pai aos 17 e nessa epoca o álcool não era tão importante pra mim e eu também adorava ácido lisérgico e cogumelos, mas essas drogas não provocam dependência como o álcool e anfetaminas. Eu tenho medo de ir parar no hospício e é por isso que estou aqui escrevendo isso pros amigos, assim como um testemunho, deixando bem claro que de qualquer maneira não sinto a menor vontade de largar o álcool por mais medo que eu tenha de ir pro hospício como Torquato. “Se quiser samba, faça. Se quiser culpa, curta. Mas assim: abaixo a psiquiatria” . Mais uma vez, Torquato. Asfixia: é assim que me sinto quando ligo o rádio, eu não consigo mais ouvir rádio ou Tv; isso, eu ouço Tv, não vejo. Tudo o que escuto não toca mais em lugar nenhum e o que eu pensava ano passado se tornou velho , o que eu ouvia em janeiro não ouço mais, não consigo ouvir Mpb de jeito nenhum, eu que gostava tanto, é só Paulinho da Viola e uma frase apocalíptica dele: eu não vivo do passado, o passado é que vive em mim.... Eu usava pseudônimo pra escrever meus textos e soube que no século passado os artistas chegavam a ter 40 alter-egos, Fernando Pessoa foi um desses, eu usava FlyBlue e Mazarem, até por que eu falava sobre drogas (sem apologia, acho que todos tem o dever e direito de experimentar tudo) e eu me escondia, até que um dia eu disse, basta, e assumo tudo: tudo que eu escrevo, escrevo pra mim mesmo, sou meu próprio objeto de desejo.. Eu dispunha respostas pras todas questões, agora perdi todas as certezas e não me preocupo mais com isso, renasço todo dia com uma duvida e uma certeza a menos: todo dia é dia D... Fico com o frescor da duvida, a certeza da certeza faz o louco gritar e eu não grito mais, apenas abro mais uma cerveja e penso na morte como aliada, é assim mesmo, a morte é meu aliado pois é ela que me impulsiona, me joga no mundo, é com o medo que eu procuro me situar nesse tempo fantástico e deslumbrante que vivo, garimpando sonhos acordado. E o álcool apesar de todo esse medo que tenho de ir pro hospício como Torquato e Sergio Sampaio e Rimbaud é também um aliado....Será meu aliado enquanto eu estiver no comando das minhas ações, eu é que uso o álcool não ele me usa, como bem disse Bukowski....ah, sim, ele...Acho que nenhum garoto de 16 anos devia ler Bukowski, ele me incentivou muito meu vício, mas eu tinha 26 anos quando li "Mulheres" e estava saindo do segundo casamento e era o ano do primeiro Rock In Rio, nunca vou esquecer o prazer anti-cívico que tinha de jogar as latas pela janela do ônibus, ele falava demais nisso nos seus textos e aqui só saiu a primeira cerveja one-way em 85, no ano da graça do primeiro Rock In Rio! Tenho vontade de mandar isso pro meu pai e pro meu irmão Paztor e pro Leozinho - por que tudo foi escrito ao som altíssimo do Radiohead .( mas tenho medo deles acharem que estou enlouquecendo).
Paz, dê uma chance!Como Cole Porter e Torquato Neto devo abrir o gás, tomar champagne ou cianureto?

OUÇA A PALAVRA ELÉTRICA VOL.1