the dark side of the sun/2019 ( Primavera Blumenau)
Nessa última temporada que estávamos juntos, eu e a Lia ( primavera
de 2019) eu comecei a me interessar pela rotação do sol, onde ele nascia
e o seu trajeto circular ou rotacional que havia imaginado errado.
Eu queria construir uma casa com energia solar e que o sol nascente
me acordasse pela janela ou mesmo às vezes, quando eu virava a noite (
sem dormir) que eu visse o sol no café da manhã.
(Sim, éramos casados mas passávamos temporadas eventuais juntos devido
às nossas agendas, morávamos em avião e hotéis pelo mundo, em função de nossos
trabalhos.)
Ela ria e achava que era perda de tempo ou talvez eu estivesse fazendo
algum jogo pra impressioná-la, sim, eu ainda tentava seduzi-la de diversas
maneiras e às vezes me achava um colegial feito canção do Leoni :“Garotos
I, II, III “ e por aí vai, “sempre me perguntando porque a vida não era
como na Tv ou no cinema.”
Eu tinha um sonho de vê-la dançando, os braços levantados, as mãos
como os Djs fazem pra incitar o público...eu não confio em quem não bebe ou
quem não dança:
Quantas oportunidades você perdeu por não saber dançar?
Quantas vezes você dançou por não saber perder?
Quando ela foi me conhecer em Florianópolis ficou horas fazendo a mala,
se trocou várias vezes, eu sabia...se levasse muita roupa seria porque
iria passar muitos dias comigo, se levasse pouca, jogo rápido. Ficou duas
noites e recebeu uma ligação de Brasilia e saiu ás pressas (-“ te amei,
seguimos juntos, não sou de ficar, vamos encarar nossas fronteiras”....)meses
depois ela me confirmou isso... eu videnciei por sermos librianos e sei como
nos comportamos em restaurantes, em situações que precisamos fazer escolhas, os
cardápios a nossa frente como um desafio e timidez... esse dia seria
nosso primeiro encontro real após meses flertando na rede... nunca ficamos
desde então nesses cinco anos, mais que 8 horas sem nos falarmos, apenas quando
fui pra Europa e fui by-passado no outono passado mas isso será outro
texto...uma familiar infelicidade havia se instalado em todo meu corpo e aí em
Amsterdã após uma noite etílica e idílica eu liguei pra ela as 5h da manhã e
defini a relação me pus a disposição:
-sim, eu moro com você no sul e a guarda do João Gabriel era minha,
finalmente, ele já tinha feito 10 anos e poderia escolher.
E toda a minha a vida a dois até essa época, minhas relações
sentimentais, tinha sido uma série de sucessos anulados por breves fracassos,
eu tinha que lidar com isso agora com maestria e maturidade, eu não era
mais um Garotos 1 das canções do Leoni. Apesar de ter me casado
várias vezes, eu me sentia inocente porque me mantive sempre amigo das
ex-mulheres, e duplo libriano, sim, eu gostava muito de me casar e minha
felicidade consiste em ser feliz a dois, daí minha incessante busca, até que
conheci Lia em 2015 e...
by@luisaconde.
Voltando: quando nos conhecemos ela estava em plena campanha
política de um candidato a prefeito muito famoso e influente na sua cidade e
teve que se hospedar no mesmo hotel que eu estava com o seu RG falso, Sra.
Silva. Eu não fazia perguntas naquela época, sentia-me particularmente desarmado,
não conseguia digerir suas histórias mas precisava aceitá-las pois Lia estava
em comunhão com tudo o que nos cercava, com tudo o que que eu queria. Eu
sempre, o centro do universo... o meu instinto me aconselhava isso,
apenas deixava ela gravitar à minha volta enquanto eu contava estórias que não
tinham fim e se emendavam em outras às vezes eu mesmo me perguntando se tudo o
que eu falava era real devido a ter tantas versões que iam melhorando à medida
que o tempo passava...acho que o tempo está passando a Mão em mim...o
meu ego inflava e eu via o meu sotaque da cidade que deu meu
imprinting (sou um Rio que jamais chega no mar) e pensava: ela deve estar me
achando um ególatra dos infernos, mas o que fazer se 90% do que eu falava era
real e o resto eu ...improvisava, e ela ria das sonoridades das palavras.
O meu medo e percepção da morte eram minhas molas motivadoras, e eu cada
vez mais compreendia porque muitos dos meus amigos não suportavam ficar sós a
noite e me ligavam pra não beber sozinho, a Nana Caymmi que me ensinou
isso:" quem bebe só é alcoolatra, eu nao, eu telefono pra
voce..."
Nos meus sonhos Lia dançava com movimentos sexy com suas mãos tão
pequenas e fazia trejeitos de prazer com sua boca, tudo muito sutil, ao
som de música latina.
Na realidade não, nunca dançava, apenas simulava quando ouvia uma música
eletrônica sempre com a mesma mímica corporal, os braços erguidos....tudo tão
sensual e leve como todo o seu movimento era...e eu nunca saberia o que é de
verdade numa mulher interessante que jantava e ia pra capital do Brasil com
senadores, políticos da alta esfera.
Eu a amava demais e morria de medo, e jamais fazia perguntas quanto a
sua agenda e reuniões políticas e mal me importava se eram de direita ou
esquerda. Eu a amava demais pra fazer perguntas.
Eu não me importava em saber quem era aquela mulher que apareceu em 2015
do nada vestindo aquelas roupas, apenas queria te-la e passar o máximo do meu
Tempo com ela e ouvir suas histórias sobre os políticos da capital federal.
Tinha uma risada alta e histriônica e após o convívio esparso, teria
sido perfeita, se eu já não desconfiasse e evidenciasse que seu arraigamento
religioso e sua formação familiar falida de cidade sulista estavam vindo a
tona, havia uma forte tensão em mim e uma exigência que ela fosse perfeita.
A força da gravidade:
Ela me perguntou se havia algo no passado que eu gostaria de mudar sobre
meus múltiplos relacionamentos e eu como que adivinhando o que ela queria
ouvir, disse: sim, tudo,gostaria de mudar tudo!
Quando eu perdi meu casamento com ela em 2019 eu não tive chance
de lutar porque eu não percebi in loco o que estava acontecendo no
turbilhão que eu vivia de turnês de shows intermináveis ( a Turnê A
Mulher do Fim do Mundo rodou 1/3 do planeta) e a luta na justiça pela
guarda de meu filho recente e Lia no meio de tudo isso, perplexa, inclusa
em algo que não foi consultada e exclusa do convívio diário do parco tempo que
eu dispunha...vivia me cobrando uma casa no campo estável e fim das
turnês e eu apenas abanava a cabeça e dizia: tenho uma guarda compartilhada
em São Paulo, um filho caçula de 6 anos.
E quando ela se foi, ficou sua lembrança em cada canto do apartamento em
São Paulo, de todas as noites que dormi sem ela jurando pra mim que não ia telefonar
pra ela e meu orgulho/jurava que não ia ligar até que fui pra
Argentina.
Antes de conhecê-la, quando eu saí daquele relacionamento em 2013,com a
mãe do Joao Gabriel, na realidade quando eu entrei nesse relacionamento que eu
tentava amar alguém que eu não amava e só precisava e queria que ela me
salvasse de mim, e isso foi impossível...
quando eu saí dessa relação (em 2013) levei tudo, não deixei nada pra
trás. Eu levaria até os pecados todos os erros, minha vergonha...se eu pudesse.
Lia me ofereceu proteção, mas ela fazia parte do que eu deveria
ser protegido.
"no final das contas, pode ser que nao sirva pra mais nada,
eu fui construido sobre uma ideia errada...segundo o qual as pessoas não
são malvadas o suficiente para se perderem sozinhas, com seus próprios
meios"
Paul Valéry.
E aí 15 meses depois, 2021, Lia "nao me telefonou" ( foi um sonho querido) com sua voz embargada, nao identifiquei sua voz