Thursday, May 10, 2007

É Paulo, São Mutantes.



Harém da Imaginaçao.

São Paulo, dia 25 de janeiro, aniversario da cidade. 21:15h. Após a apresentação apocalíptica de Tom Zé, entram no palco Os Mutantes. Sim, Os Mutantes. Os irmãos Sergio Dias e Arnaldo Baptista,Dinho e a nova mutante Zélia Duncan.
Sergio e Arnaldo visivelmentes emocionados, os olhos de Serginho brilhavam muito. Fantasiado de D. Pedro I, Arnaldo de capa, ao som de D. Quixote. As 50 mil pesssoas vieram abaixo, era pura emoção!
Na cabeça de Serginho Os Mutantes nunca acabaram, estavam de férias prolongadas.Sim, mais de 30 anos, mas, por suas suas entrevistas, sempre falou nos Mutantes no presente e sempre disposto, aberto a volta, a re-volta dos Mutantes; quando seu desejo passou a ser mais que um cego impulso. Não se via ali a bipartição, antes e depois.
Ninguém sai ileso após ouvir os Mutantes.Como disse Gilberto Gil na capa de seu segundo disco,’não existe camisa de força nem guarda-chuva contra os Mutantes’. Eles sempre foram um “continuo vir-a-ser”, jamais se limitariam a uma compreensão esquematizada.
Me lembro que em 2004, na casa de Lucinha e Arnaldo em Juiz de Fora, quando fomos assinar com Aluizer o contrato do cd Let It Bed do Arnaldo, que saiu pela Revista Outracoisa. Fomos eu, Lobão, Regina, Cris Aspesi, saímos do Rio as 06 da manhã e fomos ouvindo todos os discos solos de Arnaldo ( que eu levei pra ele autografar mas me intimidei na hora) e o assunto veio à baila: Os Mutantes. Aluizer ( empresário do Pato Fu e agora dos Mutantes), muito entusiasmado falando nessa possibilidade remota, naquela época. E o Lobão contando estórias do final dos anos 70 quando montou uma banda tumultuária com Arnaldo Baptista e Arnaldo Brandão( A Bolha, Hanói, Hanói) e nem tinha nome. Brinquei e disse que deveria se chamar 1 Lobao e 2 Arnaldos. Todos riram. Mas a idéia foi abortada após algum tempo, pois eles ensaiavam na casa da namorada do Lobão, a ex do tecladista do Yes, Patrick Moraz e, segundo o Lobão, vivia uma situação de prisão domiciliar , por ser mais novo e tal e ela proibiu os ensaios! Imagina o som que deveria ser isso!!! Já tinha sido detonado o som progressivo e o punk então fervilhando.Enfim, são estórias que o próprio Lobão deverá contar no livro que está preparando na comemoração dos seus 50 anos.
O show. Ponto alto na música Dia 36 em que Arnaldo se solta e a letra, claríssima na sua voz com o mesmo efeito do disco, seria um pitch ou flanger?
Esquece, não pensa mais...
Sérgio super emocionado errou a letra de Balada do Louco sob o olhar sempre atento da Zélia Duncan,e, assim também, em Bat Macumba que se percebia um duelo entre ele e Zélia, quem vai errar a letra? Poesia concreta e visual em que se forma a asa de um morcego e a letra K, glauberiana e desbundada, quando brinca com macumba e iê-iê-iê, um sacrilégio em épocas de ditadura e engajamentos.(68)
Eu não acreditei quando colocaram dois microfones no centro do palco e entrou Tom Zé cantando Qualquer Bobagem, letra fragmentada,de intenções fugidias, quase gaga, em que o cara parece que está bêbado e tenta: es-c-ute essa c-c-anção, ou q-qualquer bobagem...ouça o coração...
A emoção maior, pra mim, foi quando o Serginho anunciou a banda, um brilho nos seus olhos quando fala do irmão, abre os braços e diz:
Nós somos os Mutantes!
Todos juntos numa pessoa só, 50 mil pessoas. Emocionar 50 mil pessoas é tão fácil quanto respirar.



Esse texto é dedicado a Cris.Tina que não teve medo e correu não atrás, mas sim, correu na frente do sonho e vai realizá-lo porque merece.

Foto do site de Bruno Torturra.

OUÇA A PALAVRA ELÉTRICA VOL.1