Saturday, March 14, 2009

Day by Day .


São São Paulo | Day by Day, março 09.

Love is real, real is Love ( Lennon)

“ O caráter de um homem é seu demônio”



Liguei a Tv na virada do ano. Assistia há algumas horas e pensei: estou na minha própria língua, meu país, mas sou estrangeiro. Aqui e estrangeiro. Me sinto no direito de sonhar meu próprio pais como Henry Miller sonhou Paris que mexeu com toda uma geração.
A TV, as rádios, a mídia em geral não falam mais a língua que preciso, que sonho. Perdeu a conexão. A conformidade anêmica da Tv. Dos noticiários. Sou estrangeiro, exilado na minha própria rua, no bairro.

 A cidade de elite global cercada de terceiro mundo por todos os lados. Tudo o que a grande saúde dominante não quis saber. As musicas que escuto estão na contra-mao, nas rádios piratas, nas redes.
O que mais me entristece é o provincianismo (aliado as religiões, e pela mais vergonhosa tutela clerical) a matutice que impregnou todo o pais nesses últimos anos. Houve um tempo no final dos anos 80 em que eu acreditei que algo fosse acontecer, algo grandioso como previu Glauber Rocha. O Brasil não cresceu, pelo contrario, contraiu uma artrite prematura. Uma elite cercada de terceiro mundo por todos os lados. Os excluídos, os inempregáveis, os velhos, os deficientes mentais. Todos. Excluidos. A comunidade dos desiguais.

E eu não faço parte desse homem estatístico, cyber-zumbi, médio, consumidor ideal, esse gado cibernético que pasta nas previsões da TV. Não. Continuo com a idéia de sonhar meu país, insano sonho e talvez suicidario . Sonhar como Henry Miller e Neal Cassady. A minha realidade é um sonho que ainda terei.

Nos anos 80 as coisas estavam se tornando familiares demais... a minha criação e a minha vida controlável – estava acessivel e previsivel demais- e eu saquei que precisava me desorientar. Aí me tornei caçador de novo. Eu estava muito apaixonado e me habituara a ciumosa aflição dos olhos dela.
 ( Liege!) Havia negociado minha comodidade e meu conforto e então reli Nietzsche e Cortazar e joguei tudo pro alto.

Não tenho nada a ver com o futuro!

Estava finalizando esse texto e me deparo com a seguinte noticia na TV:

O arcebispo de Olinda após excomungar os pais e os médicos que fizeram o aborto na menina de 9 anos que foi violentada pelo padrasto, disse que o crime de estupro é menor que o aborto .
( obviamente não excomungou o tal padastro!) e que os médicos fizeram uma escolha de morte com essa ação!!!!

Como dizia Nelson Rodrigues, o Brasil será no futuro maior país não-católico do mundo. Eu sonho com esse dia, em que não tenham mais igrejas e nem religioes.

Sempre é bom re-lembrar o cara, Nietzsche:

“ o que me separa , o que me coloca à parte de todo o resto da humanidade é haver descoberto a moral cristã. Por isso tive a necessidade de fazer uso de uma palavra que mantivesse o sentido de um desafio a cada homem. Não ter aberto os olhos a mais cedo nesse ponto me parece ter sido a grande impureza que a humanidade carrega na consciência, como automistificaçao tornada instinto, como vontade radical de não enxergar nenhum acontecimento, nenhuma causalidade, nenhuma realidade, como falsificação in psychologicis que chega ao crime...a moral cristã- a forma mais maligna da vontade de mentira, a verdadeira Circe da humanidade: aquilo que a deteriorou....
....aquela espécie parasitária de homem, a do sacerdote, que través da moral elevou-se fraudulentamente à definidora dos valores, que na moral cristã divisou o seu meio de alcançar o poder...”

Esse texto é dedicado a Sheyla Castilho e Gisele Miranda  porque elas sabem ler.

Fortemente inspirado em Peter Pal Pelbert e Norman Mailer.




OUÇA A PALAVRA ELÉTRICA VOL.1