Saturday, January 30, 2010

Carta aberta de Remedios II







Recebi esse texto no meu post e resolvi publica-lo.Eu tentei explicar pra Remedios II
que em Macondo os telefones e a internet nao funcionam.
Saudades muitas de Joao Miguel Joao, meu aprendiz de poeta e futuro Borges baiano. Diga pra ele que levo palavras novas na mochila.



"E eu, Remédios II, onde entro nessa história? Você esqueceu-me, abandou-se ou perdeu sua memória? Eu que guardo até hoje nosso fruto desejável, veio ao mundo estimulado igual poesia Neruda e poetando as primeiras palavras disse: “caneta, rima e papel”. Sabendo os pais que tem, nosso filho Miguel João Miguel, veio ao mundo consciente do seu dom de esclarecer, um fado herdado por nós, que fizemos ele nascer.
Ouvia você cantar Raul, “O que você quer ser quando você crescer” e dormia calmamente enquanto com isso sonhava, meu amor, sua voz pasteurizada pelo álcool, rápida e linda, permanece em nosso quarto. Você, amor, um pai presente em suas histórias compridas, situações criadas e paixões convencidas. Apesar do inferno astral aquário com libra nossa convivência foi com fervor guardada e por mim sua volta é sempre almejada.
Venha ver nosso Miguel, que se espelha em você, mas digo-lhe: seja apenas de uma pra toda vida. Ele responde que será igual você, dono de muitos amores. Ele quer sentir o mundo e sem o maior rancor diz que igual a soneto de Vinicius também quer morrer de amor.
Enfim, aguardo noticias suas. Pois sem você canto de alma nua nossos primeiros versos.
Nosso destino é incerto, ou como sua vidência disser. Então sejamos “Dalva e Erivelto” a escrever nosso amor do futuro e que em nossos momentos de amanhã possa haver menos inverno.
Te encontro qualquer dia com o Miguel João Miguel, levarei um pouco de sol na bagagem, aí ta chovendo muito e ele gosta de olhar o céu em sua plenitude nuvens brancas, isso inspira-o a brincar porque não só de poesia vive nosso baiano pequeno aprendiz de poeta.

Te amo sempre, meu amor prestante..."

Wednesday, January 20, 2010

Sara & Rosário, ou Sara & Rosário e outras.

“ Ela me fez mil juras, promessas
Me fará perder o medo do escuro
Me ensinará a dançar
Passeios no zoológico
Me absolveria de todos os pecados
O dia amanhecia
E ela me prometia
Me querer mesmo de mentira
Passar a procuração de todos os seus atos
Beijaria meus olhos enquanto eu dormia
Assim me enfeitiçaria
Me querendo mesmo de mentira
Ela me fez mil juras
Promessas”


O mais difícil era saber como começar...como eu contar pra ela(s) que eu já tinha programado ter um filho no próximo ano em Salvador.Eu tinha um plano e era bem definido.
Sara
Rosário.
Remédios.

Eu não tinha palavras.
Eu e Sara nos encontrávamos quase diariamente, no almoço, em bares muito claros pela primavera e muito frequentados.Ela morava em Barcelona, e eu vivia entre essa cidade e madrid. Dois amores. A gente não falava nada do passado, nossos assuntos eram sempre sobre nossos filhos. Eu tinha um sentimento de culpa ilimitada em relação a Sara, juíza de mim. Era difícil eu me libertar disso tudo, eram 25 anos. Lembro da foto quando nos vestíamos pro casamento.1981.
Ela nunca falava dela porque eu falava e falava sobre o que estava lendo ou sobre o que estava escrevendo. Raramente me sentia num monólogo, mas eu sentia um prazer quase mórbido em faze-la me escutar.As vezes ela fingia um interesse forçado.Também flagrava ela, escondida, rabiscar num papel o nome de algum livro que eu comentava ou alguma frase que eu falava.Mas, o que mais me encantava, ainda era o brilho dos seus olhos me fitando, quase com vergonha, ela desviava, fingindo um amor terminado. Mal começado e mal terminado. 26 anos após o casamento ainda tinha um ar de menina sendo descoberta e isso era o mais bonito/radiante. Apenas seus olhos não envelheceram. Sara tinha os olhos da cor de quem observou o mar durante muitos anos, ostensivamente.
Não existia nós. Falávamos sempre dos outros, como se estivéssemos exilados, apartados de nós mesmos...

No final de tudo eu poderia passar por doido e dizer que tudo era ficção e eu ainda não tinha perdido a capacidade de chorar. Frases ambíguas. Eu precisava me inteirar mais do pluriverso feminino. Não podia repetir erros e os seus olhos me encaravam pedindo a verdade, mas qual?
Rosário morava em Madrid, professora de musica.Nela eu não via olhar de desimportancia pelo meu trabalho.Morava num apartamento espaçoso na Gran Via 41 proximo do café do Hotel Vincci......citava frases e textos meus e via orgulho estampado quando falava de mim pros amigos, todos musicos e intelectuais.
Eu me sentia um personagem sonhado por ela, eu me via dentro do sonho dela e não sei até que ponto isso isso me dava a consciência real de mim, até que ponto eu teria que ser responsável a estas expectativas- mas, eu, não podia impedir isso.E sabia que a largaria muito rapido, eu não suportava o peso do seu amor e nao queria ser responsável por isso.

Nesse momento me sinto só, sem a vigília de uma, sem o toque da outra e a vida foi nos levando, nos afastando. Desaprendi a amar, desaprendi de carinho como diria Nana Caymmi. Acho que estou desenlouquecendo.Desfetichizado.Perdi a obssessao feérica que nutria por Sara. Ações persecutórias. Problemas de compulsão repetitiva. Acabou tudo isso no momento que decidi ser feliz.No momento que resolvi entrar em consorcio com meus demônios. Admiti-lo como igual.
Eu sempre cheguei nas minhas relações sem bater na porta, me aposso de tudo que posso, de todos entimentos e talvez seja por isso que elas me largam, sou passional ate a pagina vinte.
Eu sabia que a necessidade de escrever vinha do meu desajuste com a vida real, do meu conflito interior, que eu nunca iria conseguir resolver através da ação, como disse Maurois.

O mais difícil era saber como começar... Eu tinha um plano e era bem definido. Eu não tinha palavras.Tinha um filho agendado pro proximo ano com Remedios em Salvador.
Sara tinha um temperamento bélico,e ao mesmo tempo, infantil. No dia dos namorados comprava flores pra si mesma e também nas datas festivas, no Natal, se dava presentes caros, como se fosse algum amigo oculto, com cartões com imensas dedicatórias. Criou um personagem fake no orkut que lhe mandava scraps libidinosos...Fingia falar no celular com um grande amor...aos poucos ia perdendo a noção de tempo e a esquizofrenia ia tomando campo.
Ela me bypassou anos atras, despotencializou o meu amor e aí apareceu Rosario.
Rosário tinha os olhos de quem observava tudo muito cautelosamente, de quem havia vivido muitos engarrafamentos, tinha a paciência de Ghandi ou a disciplina de um asceta resignado pela inércia dos carros...

Acabo sempre fazendo coisas para não enlouquecer, como contar essa historia...eu nao recebo visitas, ninguém bate a minha porta.
Estou termiando esta estoria e ainda não consegui contar pra Sara e Rosario que terei um filho em Salvador. Elas lerão por aqui.

Pra Miwky ( com amor) e Caio Fernando Abreu que me deu o mote.

OUÇA A PALAVRA ELÉTRICA VOL.1