Wednesday, April 26, 2023

the dark side of the sun

 

the dark side of the sun/2019 ( Primavera  Blumenau)

 

Nessa última temporada que estávamos juntos, eu e a Lia ( primavera de  2019) eu comecei a me interessar pela rotação do sol, onde ele nascia e o seu trajeto circular ou rotacional que havia imaginado errado. 

Eu queria construir uma casa com energia solar e que o sol nascente me acordasse pela janela ou mesmo às vezes, quando eu  virava a noite ( sem dormir) que eu visse o sol no café da manhã.

(Sim, éramos casados mas passávamos temporadas eventuais juntos devido às nossas agendas, morávamos em avião e hotéis pelo mundo, em função de nossos trabalhos.)

Ela ria e achava que era perda de tempo ou talvez eu estivesse fazendo algum jogo pra impressioná-la, sim, eu ainda tentava seduzi-la de diversas maneiras e  às vezes me achava um colegial feito canção do Leoni :“Garotos I, II, III “ e por aí vai, “sempre me perguntando porque a vida não era como na Tv ou no cinema.”

Eu tinha um sonho de vê-la dançando, os braços levantados, as mãos  como os Djs fazem pra incitar o público...eu não confio em quem não bebe ou quem não dança:

 

Quantas oportunidades você perdeu por não saber dançar?

Quantas vezes você dançou por não saber perder?

 



Quando ela foi me conhecer em Florianópolis ficou horas fazendo a mala, se trocou várias vezes, eu sabia...se levasse muita roupa  seria porque iria passar muitos  dias comigo, se levasse pouca, jogo rápido. Ficou duas noites e recebeu uma ligação de Brasilia e saiu ás pressas (-“ te amei, seguimos juntos, não sou de ficar, vamos encarar nossas fronteiras”....)meses depois ela me confirmou isso... eu videnciei por sermos librianos e sei como nos comportamos em restaurantes, em situações que precisamos fazer escolhas, os cardápios a nossa frente como um desafio e timidez... esse dia  seria nosso primeiro encontro real após meses flertando na rede... nunca ficamos desde então nesses cinco anos, mais que 8 horas sem nos falarmos, apenas quando fui pra Europa e fui by-passado no outono passado mas isso será outro texto...uma familiar infelicidade havia se instalado em todo meu corpo e aí em Amsterdã após uma noite etílica e idílica eu liguei pra ela as 5h da manhã e defini a relação me pus a disposição:

­-sim, eu moro com você no sul e a guarda do João Gabriel era minha, finalmente, ele já tinha feito 10 anos  e poderia  escolher.

 E toda a minha a vida a dois até essa época, minhas relações sentimentais, tinha sido uma série de sucessos anulados por breves fracassos, eu tinha que lidar  com isso agora com maestria e maturidade, eu não era mais um Garotos 1 das canções do Leoni. Apesar de ter me casado várias vezes, eu me sentia inocente porque me mantive sempre amigo das ex-mulheres, e duplo libriano, sim, eu gostava muito de me casar e minha felicidade consiste em ser feliz a dois, daí minha incessante busca, até que conheci Lia em 2015  e...

 

by@luisaconde.

Voltando: quando nos conhecemos  ela estava em plena campanha política de um candidato a prefeito muito famoso e influente na sua cidade e teve que se hospedar no mesmo hotel que eu estava com o seu RG falso, Sra. Silva. Eu não fazia perguntas naquela  época, sentia-me particularmente desarmado, não conseguia digerir suas histórias mas precisava aceitá-las pois Lia estava em comunhão com tudo o que nos cercava, com tudo o que que eu queria. Eu sempre, o centro do universo... o meu instinto me aconselhava  isso, apenas deixava ela gravitar à minha volta enquanto eu contava estórias que não tinham fim e se emendavam em outras às vezes eu mesmo me perguntando se tudo o que eu falava era real devido a ter tantas versões que iam melhorando à medida que o tempo passava...acho que o tempo está passando a Mão em mim...o meu ego inflava e  eu via o meu sotaque da cidade que  deu meu imprinting (sou um Rio que jamais chega no mar) e pensava: ela deve estar me achando um ególatra dos infernos, mas o que fazer se 90% do que eu falava era real e o resto eu ...improvisava, e ela ria das sonoridades das palavras.

O meu medo e percepção da morte eram minhas molas motivadoras, e eu cada vez mais compreendia porque muitos dos meus amigos não suportavam ficar sós a noite e me ligavam pra não beber sozinho, a Nana Caymmi que me ensinou isso:" quem bebe só é alcoolatra, eu nao, eu telefono  pra voce..."

 Nos meus sonhos  Lia dançava com movimentos sexy com suas mãos tão pequenas  e fazia trejeitos de prazer com sua boca, tudo muito sutil, ao som de música latina.

Na realidade não, nunca dançava, apenas simulava quando ouvia uma música eletrônica sempre com a mesma mímica corporal, os braços erguidos....tudo tão sensual e leve como todo o seu movimento era...e eu nunca saberia o que é de verdade numa mulher interessante que jantava e ia pra capital do Brasil com senadores, políticos da alta esfera.

Eu a amava demais e morria de medo, e jamais fazia perguntas quanto a sua agenda e reuniões políticas e mal me importava se eram de direita ou esquerda. Eu a amava demais pra fazer perguntas.

Eu não me importava em saber quem era aquela mulher que apareceu em 2015 do nada vestindo aquelas roupas, apenas queria te-la e passar o máximo do meu Tempo com ela e ouvir suas histórias sobre os políticos da capital federal.

Tinha uma risada alta e histriônica e após o convívio esparso, teria sido perfeita, se eu já não desconfiasse e evidenciasse que seu arraigamento religioso e sua formação familiar falida de cidade sulista estavam vindo a tona, havia uma forte tensão em mim e uma exigência que ela fosse perfeita.

 

A força da gravidade:

Ela me perguntou se havia algo no passado que eu gostaria de mudar sobre meus múltiplos relacionamentos e eu como que adivinhando o que ela queria ouvir, disse: sim, tudo,gostaria de mudar tudo!

 

Quando eu perdi meu casamento com ela em 2019 eu  não tive chance de lutar porque eu não percebi in loco o que estava acontecendo no turbilhão que eu vivia de turnês de shows intermináveis ( a  Turnê A Mulher do Fim do Mundo rodou 1/3 do planeta) e a luta na justiça pela guarda de meu filho recente e Lia  no meio de tudo isso, perplexa, inclusa em algo que não foi consultada e exclusa do convívio diário do parco tempo que eu dispunha...vivia me cobrando uma casa no campo  estável e fim das turnês e eu apenas abanava a cabeça e dizia: tenho uma guarda compartilhada em São Paulo, um filho caçula de 6 anos.

E quando ela se foi, ficou sua lembrança em cada canto do apartamento em São Paulo, de todas as noites que dormi sem ela jurando pra mim que não ia telefonar pra ela e meu orgulho/jurava que não ia ligar até que fui pra  Argentina. 

 Antes de conhecê-la, quando eu saí daquele relacionamento em 2013,com a mãe do Joao Gabriel, na realidade quando eu entrei nesse relacionamento que eu tentava amar alguém que eu não amava e só precisava e queria que ela me salvasse de mim, e isso foi impossível...

quando eu saí dessa relação (em 2013) levei tudo, não deixei nada pra trás. Eu levaria até os pecados todos os erros, minha vergonha...se eu pudesse.

 

Lia  me ofereceu proteção, mas ela fazia parte do que eu deveria ser protegido.

 

"no final das contas, pode ser que nao sirva pra mais nada,

eu fui construido sobre uma ideia errada...segundo o qual as pessoas não são malvadas o suficiente para se perderem sozinhas, com seus próprios meios"

Paul Valéry. 

E aí 15 meses depois, 2021, Lia "nao me telefonou" ( foi um sonho querido) com sua voz embargada, nao identifiquei sua voz 

 

 

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